Pequena homenagem a um grande professor.



José Carlos Vaz*

Gosto de colocar uma música de fundo quando resolvo escrever. Hoje, para falar do meu personagem, escolhi a música Edelweiss. Não sei se vocês se recordam, mas esta música fazia parte da trilha sonora do filme A Noviça Rebelde. Edelweiss é uma flor rara que desabrocha em locais muito altos e de difícil acesso nos Alpes europeu.



Ela tem a forma de estrela e se mostra em uma cor branca de incrível pureza, o que lhe valeu o nome Edelweiss, que quer dizer: Branco Precioso.
A melodia composta para homenagear a beleza desta flor é doce e de uma suavidade incomum.
A pessoa de quem eu vou falar, nesta crônica de hoje, tem tudo haver com esta flor e sua música.
Trata-se do Professor José Fernando Castro Figueiredo, da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto e que faleceu em 2 de dezembro de 2009.
Não tive o privilégio de ser aluno do prof. José Fernando, mas a vida me concedeu o grande prazer de conviver um pouquinho com ele, tempo suficiente para que eu pudesse entender que estava diante de uma pessoa de grande valor, não apenas no campo profissional, mas também como ser humano.
Tivemos alguns pacientes em comum e, nos momentos em que trocamos idéias sobre os nossos doentes, fui descobrindo naquele professor de medicina, a extensão do seu conhecimento científico que o fazia respeitado não apenas no ambiente do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, mas também nos demais estados do Brasil e ainda em vários países do mundo.
Nascido em Altinópolis ele, aos vinte anos de idade, já era aluno do curso de medicina da Faculdade da USP de Ribeirão Preto de onde nunca mais saiu, pois passou a dedicar sua vida profissional e todo o conhecimento adquirido, àquela instituição de ensino.
Dos pacientes que se trataram com ele eu só ouvi elogios, não apenas pela terapêutica em si, mas ainda e sobre tudo, pela maneira humana e carinhosa com que foram atendidos.
Dos colegas de profissão que foram seus alunos, soube que ele era considerado um grande mestre e, todos que aprenderam com ele, o estimavam e respeitavam.
A vida, em seus desígnios misteriosos, acabou me oferecendo a oportunidade de conhecer um pouco mais de perto a pessoa deste professor.
Infelizmente foram momentos curtos, mas suficientes para perceber que por traz daquele mestre existia uma pessoa dotada de grande bondade, um ser humano do tipo que só dignifica a espécie.


Marido exemplar e amoroso, pai amado pelas filhas e pela neta, o Prof. José Fernando era um homem simples e manso, que falava baixinho, transmitia em seus gestos a delicadeza de sua alma e que deixava muito claro em seu olhar a enorme bondade que emanava de seu coração.
Muito discreto, tinha bons conselhos a oferecer aos que o procuravam, pois sabia ouvir as pessoas, seus problemas e aflições, para em seguida, oferecer a solução sempre baseada no bom senso e na sabedoria.
Seu irmão Marco Antonio, disse um dia à minha mulher que o Prof. José Fernando era para ele uma referência de equilíbrio e sensatez.
Recentemente, ao retornar de um Congresso na Europa onde fora proferir uma de suas palestras, o professor descobriu-se tomado por uma doença que ele sabia, seria fatal.
Reuniu os familiares para comunicar-lhes que os deixaria em breve e, com uma dignidade só encontrada em pessoas muito especiais, dedicou seus últimos dias a prepará-los para o momento mais doloroso.
Conviveu com a sua doença com uma força só encontrada naqueles que têm a consciência tranqüila de ter cumprido com galhardia, honestidade e dedicação, a missão que a vida lhes destinou.
Quando o sofrimento se tornou insuportável e ele percebeu que o momento final se aproximava, soube suportar a agonia de ter que conviver com a idéia da morte e a separação dos que ele tanto amava.
No silêncio de uma madrugada, partiu como sempre viveu: discretamente, sem alardes, sem ruídos, sem lamentações. Simplesmente, parou de respirar.
Ao Professor José Fernando de Castro Figueiredo vai aqui a homenagem dos francanos que ele tratou com carinho e sabedoria, dos que foram seus alunos e hoje utilizam o que aprenderam com ele para tratar os pacientes de nossa cidade e também daqueles que, no convívio social, puderam experimentar um pouco de sua doçura.
A USP, os pacientes, os discípulos, os amigos e familiares, todos temos a certeza de que hoje, no céu, brilha mais uma estrela com a suavidade e a enorme beleza de uma edelweiss.

José Carlos Vaz

*José Carlos Vaz da Costa é médico formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1973. É cirugião do Hospital Reginal de Franca com especialização em doenças e cirurgia do aparelho digestivo. Membro titular do Colégio Brasileiro de Cirugiões e membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva, além de cronista e historiador.

Página Inicial

PRÓXIMA PÁGINA

Um comentário: