Tiradentes ou Roy Rogers? Como se contrói uma lenda.


No site Cronologia da História Universal da Enciclopédia Mirador, não consta os nomes de Tiradentes ou dos inconfidentes. O site não faz qualquer alusão à inconfidência mineira. Ao digitar o período de 1789 a 1792, espaço que vai da prisão dos inconfidentes até a execução de Tiradentes, nenhuma palavra ou citação a respeito. Já os sites nacionais, colocam a inconfidência mineira lado a lado com a independência norte americana e a revolução francesa, como se os três fossem fatos interligados. Para tais historiadores, a figura do Tiradentes tem o mesmo peso histórico universal de um George Washington ou dos iluministas franceses. Pelas ilustrações que sempre se fizeram e ainda se faz da nossa mais proeminente figura histórica das Minas Gerais, o Tiradentes, é muito triste ver a que ponto o ridículo pode chegar. Clique aqui e confira a enciclopédia.



Os Evangelhos, tal qual conhecemos, foram escritos entre 70 e 115 d.C., manipulados através dos tempos com desenvoltura e liberalidade, não tendo os escritores qualquer indecisão em modificá-lo para expressar aquilo que eles considerassem condizer e conduzir à maior glória de N. S. Jesus Cristo ou para alinhá-lo aos pontos de vista das seitas de que fossem adeptos. Eles foram escritos em grego, enquanto que o idioma falado por N. S. Jesus Cristo era o aramaico. A Última Ceia (em italiano L'Ultima Cena e também Il Cenacolo) é uma pintura de Leonardo da Vinci para o seu protetor, o Duque Lodovico Sforza. Foi pintada entre 1495 a 1497 d.C, portanto, 1.500 anos após o acontecido.

Fundada por volta de 1702, a cidade de São José do Rio das Mortes receberia do recém instalado governo provisório da república o nome de Tiradentes, cem anos após o episódio dos chamados inconfidentes (traição ao rei). O decreto é o de número 3 do governo provisório republicano, datado de 06 de dezembro de 1889, dias depois do golpe militar.





O quadro Tiradentes Esquartejado, de Pedro Américo (1893) - imbatível em todos os aspectos, foi assinado quatro anos após a instauração do governo provisório da república, ou seja, 101 anos após a morte de Tiradentes. Além de retratar o próprio N. S. Jesus Cisto esquartejado, o pintor ainda colocou um crucifixo rente à cabeça do morto. Cristo pregado na cruz e um outro Cristo esquartejado em Minas Gerais, um modelo perfeito para o imaginário popular. É que Pedro Américo sabia como fazer história. Foi ele o autor de quadros importantíssimos como A Batalha do Avaí e Independência ou Morte, exaltando a figura de Dom Pedro I, o pai do seu patrono que lhe daria uma bolsa de estudos para ir estudar na Europa.
Tudo que se pintaria sobre Tiradentes seria cópia de Pedro Américo, o homem que cunhou a imagem do ícone da inconfidência assemelhado a N. S. Jesus Cristo.
Os historiadores oficiais da USP ou das universidades federais não conseguem enxergar tais evidências, do contrário já teriam publicado algo semelhante a ser ministrado nas escolas de ensino fundamental. É uma lástima o que se ensina de história no Brasil.




O local onde hoje se encontra a Praça Tiradentes, em Ouro Preto, era conhecido no século XVIII como Morro de Santa Quitéria. Após a independência do Brasil e durante quase todo o século XIX, chamou-se Praça da Independência, em homenagem ao imperador D. Pedro I, o verdadeiro, o homem que nos deu a independência sem disparar um tiro, ou melhor, sem soltar um traque.
Após o golpe de estado em 15 de novembro de 1889 e com a deportação da família imperial, cinco anos depois, em 1894, os golpistas militares que tomaram o poder com a pecha republicana inaugurariam um novo monumento na Praça da Independência. Passou a se chamar Praça Tiradentes, 102 anos após a morte do mesmo. É que os republicanos careciam de heróis com demasiada urgência, já que a primeira convenção republicana do Brasil só foi realizada em 18 de abril de 1873, na cidade paulista de Itu, com representantes das classes tanto conservadora quanto liberal de várias cidades paulistas. Vale lembrar que já se passavam 81 anos da chamada inconfidência mineira. A idéia de república era tão vaga no Brasil que só na última legislatura do império (1885-1888) é que se elegeram dois deputados republicanos, Campos Sales e Prudente de Morais, ambos paulistas. Cem anos após a inconfidência mineira, Rio de Janeiro e Minas Gerais, além de todos os outros estados brasileiros, não tinham um só representante político que fosse republicano ou que pertencesse ao partido republicano, devidamente legalizado a partir de 1873.

Poucos anos depois, ainda no final do século XIX, Leopoldino de Faria pintaria A Sentença de Tiradentes, aproximadamente 110 anos após o ocorrido. Novamente a figura de uma pessoa semelhante ao semblante de N.S. Jesus Cristo, benévolo, às vésperas do suplício. É uma cópia do modelo de Tiradentes criado pelo pintor Pedro Américo, sem tirar nem por.




Ainda no final do século XIX, o prefeito de São Paulo, Antônio da Silva Prado, republicano, construiria durante o seu mandato (1899 a 1911) a Avenida Tiradentes, hoje uma das principais artérias do trânsito de São Paulo.
O Palácio Tiradentes no Rio de Janeiro (Câmara dos Deputados) seria inaugurado em maio de 1926. Já se passavam 124 anos da morte de Tiradentes. O mito seria construído vagarosamente, atendento à premissa educacional das cartilhas escolares obrigatórias que, ao cabo de apenas uma geração - 20 anos, a propaganda repetida anualmente se encarregaria de forjar na mente das pessoas a estátua fictícia de uma fantasia.






O Painel Tiradentes, de Cândido Portinari, foi realizado em 1949, com 18 metros de comprimento e 3 metros de altura, 146 anos após a morte de Tiradentes.






O Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, foi publicado em 1953, 161 anos após a morte de Tiradentes.
O país da Arcádia jaz dentro de um leque:
sob mil grinaldas,
verde-azul
floresce. Por ele resvala, resvala e se perde, a aérea palavra que o zéfiro escreve.





O processo dos inconfidentes se prolongou por três anos. Um dos acusados, o poeta Claúdio Manuel da Costa, morreu na prisão, talvez assassinado, embora a versão oficial indicasse suicídio. Dos 34 restantes, 29 foram condenados. Cinco eram clérigos, e deveriam ser degredados antes de que três deles fossem enforcados e, os dois restantes, degredados por vida. Seis dos civis, além de enforcados, teriam suas cabeças decepadas e expostas em frente de suas casas. Outros quatro seriam também enforcados, mas poupados da mutilação. Todos eles seriam castigados com o confisco dos bens e a infâmia dos descendentes até a terceira geração, penas que também alcançariam, post mortem, ao falecido Cláudio Manuel da Costa. Os restantes, entre os quais se achava o ouvidor Tomás Antonio Gonzaga - ainda irredutível na sua negativa - foram condenados ao degredo perpétuo na África.






O dia 21 de abril foi instituído feriado nacional pela lei 4.867, de 9 de dezembro de 1965, no governo do marechal Humberto de Alencar Castello Branco, 173 anos após a morte de Tiradentes.

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